Transtorno por Uso de Álcool

Entenda o Risco e Quando Procurar ajuda especializada.

O consumo abusivo de álcool é um dos maiores desafios da saúde pública no Brasil e no mundo. O transtorno por uso de álcool (TUA), muitas vezes subestimado, é responsável por perdas funcionais graves, aumento da mortalidade e deterioração nas relações familiares, sociais e profissionais.

Epidemiologia: por que precisamos falar sobre isso?

Dados mostram que 14,2% dos homens e 6,1% das mulheres no Brasil apresentavam transtorno por uso de álcool já em 2012. Apesar de mais prevalente em homens adultos jovens, o impacto em mulheres é mais precoce e mais grave, com maior comprometimento funcional e risco aumentado de lesões físicas, problemas psiquiátricos e consequências sobre o neurodesenvolvimento fetal em gestantes usuárias.

Idosos e adolescentes também apresentam desafios particulares: nos primeiros, o diagnóstico costuma ser negligenciado; nos segundos, o uso precoce pode se tornar porta de entrada para quadros crônicos de dependência.

Riscos durante a intoxicação alcoólica

Durante episódios de intoxicação, o álcool afeta o sistema nervoso central de forma dose-dependente. Sintomas incluem:

  • Incoordenação motora, ataxia, confusão
  • Náuseas, vômitos, alterações cardiovasculares
  • Risco de coma e morte com alcoolemia >150 mg%

Além disso, há maior propensão a acidentes, comportamentos de risco, e violência doméstica.

Complicações graves: a Síndrome de Abstinência Alcoólica (SAA)

A SAA é um quadro de risco, especialmente se não tratado:

  • Quadros leves a moderados incluem tremores, sudorese, taquicardia, insônia e irritabilidade.
  • Complicações graves podem evoluir para convulsões e delirium tremens (DT), com risco de morte (até 5% dos casos).

Complicações como encefalopatia de Wernicke, demência de Korsakoff e eventos cardiovasculares também podem surgir durante a abstinência não tratada.

Quando suspeitar de delirium tremens, encefalopatia de Wernicke e demência de Korsakoff ?

Delirium Tremens (DT)

A pessoa pode ficar muito agitada, confusa, com febre, suando muito e vendo coisas que não existem (alucinações). É uma emergência médica e pode levar à morte se não for tratada rapidamente.

Encefalopatia de Wernicke

Os sintomas mais comuns são: confusão mental, dificuldades para andar e visão borrada com os olhos “tremendo”. Se tratada logo, pode melhorar bastante.

Demência de Korsakoff

É uma forma de perda de memória crônica que pode surgir após a encefalopatia de Wernicke, quando o cérebro já sofreu danos mais graves. A pessoa pode esquecer coisas recentes, “inventar” memórias (sem perceber) e ter dificuldades no dia a dia. Infelizmente, em muitos casos, os danos são irreversíveis.

Impacto funcional e comorbidades

Pacientes com TUA frequentemente enfrentam:

  • Quedas de rendimento no trabalho e nos estudos
  • Isolamento social e conflitos familiares
  • Transtornos psiquiátricos associados: depressão, ansiedade, risco de suicídio

Estima-se que 30% a 80% dos pacientes com TUA tenham comorbidades psiquiátricas, tornando essencial a diferenciação diagnóstica feita por um psiquiatra.

Quando procurar ajuda médica?

Quanto mais cedo se identificar o padrão de consumo problemático, melhor o prognóstico. O psiquiatra é o profissional capacitado para:

  • Diagnosticar e diferenciar TUA de outros transtornos
  • Avaliar a gravidade da abstinência
  • Prescrever o tratamento adequado (psicossocial, medicamentoso ou ambos)
  • Tratar comorbidades e orientar estratégias para prevenção de recaídas

Quanto antes, melhor

O Transtorno por Uso de Álcool não deve ser minimizado. É uma condição tratável, mas que exige abordagem especializada, empática e estruturada. A ajuda psiquiátrica precoce pode evitar internações, perdas funcionais irreversíveis e salvar vidas.

Se você ou alguém próximo está enfrentando dificuldades com o álcool, não espere agravar. Procure um médico psiquiatra.

 

Dr. Antonio Carlos Dutra

Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta

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